domingo, 8 de março de 2009

Dois lados da moeda

John se encontra em uma situação, na qual ninguém gostaria de estar. Não só agora, mas nem por um segundo. Tem uma opção, e três vidas em jogo. Qualquer decisão que ele resolvesse tomar, iria atingir alguém. Por bem, ou por mal.

Estava no meio da estação, e o barulho do trem nos trilhos se aproximava cada vez mais. A moça de saia comprida e colorida, com o cabelo cor de palha, caído sobre os seus ombros, quase alcançando a cintura, estava chorando desesperada, por ver seu filho naquela situação de arrancar a alma de qualquer pessoa de coração pulsante.

John estava sem pensar, quando o grito do menino soou alto em seus ouvidos, pedindo por socorro. As três vidas em jogo, incluía a de John, junto com o filho, e a mãe.

O menino tentava desesperadamente sair dos trilhos, mas não conseguia voltar para os braços da sua mãe, na plataforma. Os braços eram curtos demais para alcançar a ponta da plataforma, e a moça de cabelo cor de palha estava deitada, se esforçando ao Maximo para conseguir alcançar os braços do filho. Mas seus braços eram curtos, e todo esforça estava indo para o ralo. Deves se perguntar agora, porque diabos a mulher não desceu e pegou o garoto. Mas eu lhe digo. A alma padece, o corpo treme, e a cabeça enlouquece. Eram as torres gêmeas desabando sobre sua cabeça. A mãe estava lutando contra o tempo para conseguir trazer seu filho de volta, antes que o trem se aproximasse, e deixasse pra ela apenas lembranças.

Todas as pessoas na volta nada faziam, além de gritar: Não! Não!
O não nessa hora não ajudava em nada, a não ser o não que John estava vendo clarear em sua mente agora. John estava do outro lado da plataforma, assistindo aquela cena de horror, na qual uma mãe estava prestes a perder o seu pedaço maior. O filho.
Seu mundo começou a girar por um pequeno instante, enquanto o barulho do trem, nos trilho, gritava euforicamente. Ele era um, apenas, eles dois. Ele estava entrando em transe, e a mãe já tinha entrado em estado critico, mal respirava, colocando toda a água que tinha bebido na vida, pelos olhos. O menino estava entrando em pânico. Desesperado, ele tentava alcançar aqueles braços que lhe acolheram logo que saiu do casulo. Aquelas mãos que lhe foi estendida e lhe concedeu um abraço quente na noite fria. A mãe quase sem aquele pequeno pedaço de gente, sem aquele corpo que era a sua maior parte. Um filho, um ser seu, pra toda a vida, até a morte... E ela estava a caminho.

John não ouvia mais nada, olhava apavorado para sua volta, e apenas via pessoas incapazes, seres sem compaixão, e se ele continuasse ali parado, sem fazer nada, se tornaria um alguém como eles.

O sim e o não saiam de cada porta de dentro dos seus pensamentos, e o sim agora, já era mais digno do que ficar ali parado. Um sim que mudaria três vidas. Uma iria desaparecer com o não, e duas, continuariam seguindo com o sim, como seguia o trem ali. Seguia rápido demais, e estava à metros dali.

John estava atordoado, a mãe já não gritava, por não conseguir fazer nada, além de deixar o braço ali, cansado, pendurado para que o filho, que já estavas cansado de tentar, segurar.

Em uma fração de segundo ele desce. Cai dentro dos trilhos com o garoto. Ele sabe que não pode perder tempo, e corre o mais depressa que pode em direção ao menino.
O garoto já estava mole, de tanto pular para alcançar os braços acolhedores da mãe. John pegou o garoto nos braços, e como era mais alto, e seus braços mais longos, ergueu o menino, e a mãe, tirou forças do seu coração grande de mãe, desesperada por um abraço do filho, o pegou, e o envolveu naqueles braços doloridos de tristeza, por não serem compridos o suficiente para pegar o seu pedaço perfeito. Eles agora estavam felizes, pois estavam envolvendo aquele corpo que importava mais do que tudo e qualquer coisa.

John pode ver o sorriso brilhante num misto de alivio e felicidade brotar no rosto moça, e o menino dizia: Mamãe, mamãe... Como que dissesse: Eu não vivo sem você.

Era uma troca justa, dois por um. Uma escola própria. Uma escolha de louco, para alguns, uma escolha de herói para outros.

Há dois lados da moeda, um lado é a cara. A cara do caráter de John, a cara da coragem, a cara do alivio, a cara do desespero, a cara que estava prestes a ser colada em um ferro num impacto feroz. E o outro lado a coroa. A coroa de vencedor, a coroa do digno, a coroa do prestativo, a coroa da compaixão. A coroa, que em uma competição, é dada a aquele que melhor se dedica... Aquele que melhor faz. John, com certeza ganhara a coroa. A coroa da compaixão, a coroa do bom coração, de um homem valente. Mas a cara... A cara o John perdeu. Perdeu quando o barulho do trem o ensurdeceu, e o levou junto aos trilhos.

5 comentários:

Matheus Jost disse...

Nossa =(

muito bom!!

é realmente uma história que te faz pensar

seria eu capaz de faze o mesmo?

oO

Mônica Mondo disse...

Sei que já comentei este fora daqui mas não importa... Adorei!
E comentando o comentário acima, Quando a gente ama alguém é capaz de fazer o que o John faz, até muito mais, mas por alguém que não conhecemos...
Eu não faria :/

Ótimo post Dê...

Unknown disse...

ótimo texto andreza. ótimo mesmo. não sou capaz de fazer um texto assim. parabéns! mesmo

Bruna Uliana. disse...

Guria! Você escreve MUITO bem!
Parabéns mesmo! E desculpa por ter demorado tanto pra responder. :(
Se eu soubesse o que tava perdendo, tinha vindo antes.
;*

Anônimo disse...

Eu esperava que terminasse assim, sabe. E adorei, mesmo! Muito bem escrita!

Beijo :*