quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É preciso

Sentada sobre as pernas ela embalava o corpo lentamente, para frente e para trás.
As suas mãos pequenas alisavam o seu próprio rosto. Deslizavam dos olhos até o queixo. Quando a mão cegava ali, no queixo, os dedos o esfregavam assim, duas ou três vezes. A boca se abria. Os olhos cerrados faziam parecer que a alma queria se liberta daquele corpo que a mantinha presa ali. Um gesto desesperado.
Os soluços só não ecoavam porque o mar não possui paredes. Foi exatamente por isso que ela escolheu sentar na areia naquela noite.
Ela não se importou com a areia molhada. Ela não se importou com nada. Há não ser com a dor que lhe fazia companhia.
Gritava palavras soltas. Palavras duras.
Por mais alto que ela ousasse gritar, por mais areias que suas unhas tendessem a raspar, nada se compara à tamanha angustia que ela sentia. E o pior de tudo é que ela se permitia sentir aquilo. De certo modo a fazia bem chorar e gritar. Parecia descarregar um pouco da dor.
Chorou ali até cansar. Gritou até sua voz fazer som gutural por estar rouca. Deitou-se na areia. O mar molhava os seus cabelos. A Lua iluminava o seu rosto, igualmente quando a tela do cinema ilumina os rostos dentro de uma sala escura.
Ficou vazia por um instante. Fria. Olhas fixo na imensidão azul que era o céu da noite.
Esperou a dor sobrecarregar outra vez.