sábado, 14 de agosto de 2010

Seu corpo tem necessidade do meu. A necessidade que o meu também tem do seu.
Necessidade de sentir a carne um do outro, de tocar o rosto um do outro. De fechar os olhos e acariciar um ao outro. Ou com os olhos aberto mesmo, só pra não perder nenhum sorriso.
Meu rosto tem necessidade das tuas mãos. Tuas mãos que o pegavam por inteiro, pois são maiores que as minhas.
Minha mão conhece cada parte sua. Cada curva.
Conheço cada movimento seu.
Seu corpo conhece o meu desejo, assim como o meu conhece o seu.
Aquele dia no carro, a primeira vez. A chuva gelada atrás dos vidros. No estacionamento, carros. Amamos-nos ali.
Quando o amor é feito com amor, ele é gravado um no outro assim, como todas as outras vezes foram gravadas em mim. Todas elas. Cada uma delas.
Uma noite, enquanto tu dormias, eu te observava. Seu rosto delicado era sonolento. Um sono lindo junto de uma respiração calma e forte. Tu respiras assim, forte. Eu gosto. Passei a ponta dos meus dedos no seu rosto. Afaguei tua bochecha de leve para que não acordasse.
Beijei-te os lábios. Um beijo breve. Adormeci ao teu lado.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É preciso

Sentada sobre as pernas ela embalava o corpo lentamente, para frente e para trás.
As suas mãos pequenas alisavam o seu próprio rosto. Deslizavam dos olhos até o queixo. Quando a mão cegava ali, no queixo, os dedos o esfregavam assim, duas ou três vezes. A boca se abria. Os olhos cerrados faziam parecer que a alma queria se liberta daquele corpo que a mantinha presa ali. Um gesto desesperado.
Os soluços só não ecoavam porque o mar não possui paredes. Foi exatamente por isso que ela escolheu sentar na areia naquela noite.
Ela não se importou com a areia molhada. Ela não se importou com nada. Há não ser com a dor que lhe fazia companhia.
Gritava palavras soltas. Palavras duras.
Por mais alto que ela ousasse gritar, por mais areias que suas unhas tendessem a raspar, nada se compara à tamanha angustia que ela sentia. E o pior de tudo é que ela se permitia sentir aquilo. De certo modo a fazia bem chorar e gritar. Parecia descarregar um pouco da dor.
Chorou ali até cansar. Gritou até sua voz fazer som gutural por estar rouca. Deitou-se na areia. O mar molhava os seus cabelos. A Lua iluminava o seu rosto, igualmente quando a tela do cinema ilumina os rostos dentro de uma sala escura.
Ficou vazia por um instante. Fria. Olhas fixo na imensidão azul que era o céu da noite.
Esperou a dor sobrecarregar outra vez.