domingo, 30 de agosto de 2009

Tu abriste a porta do quarto, e eu nem notei. Tudo o que eu ouvia era a música soando alto nos meus ouvidos, e o que eu sentia era apenas a pressão que os fones faziam sobre minhas orelhas, e o lençol gelado, que me dava uma sensação de frescor naquela tarde de inverno semelhante a uma de verão.
Eu não notei, mas o aroma me era familiar. Tu chegaste mais perto, colocando seus joelhos no chão de madeira liso, debruçando seus braços sobre a cama. Eu não sei qual é a graça de ver meus olhos fechados, mas eu sei qual é a graça de sentir o seu sorriso.
São só alguns centímetros que distanciam a minha boca das tuas mãos. Me virei um pouco e o fone sempre incomoda minha orelha quando eu me deito de lado, então abro os meu olhos e te vejo ali, sorrindo.
É inevitável não sorrir quando vejo seu sorriso. É como se o teu sorriso fosse o meu, e de fato, pra mim, é.
Eu não me movimento, apenas te escuto dizer que se fosse um ladrão já teria me roubado.
Eu poderia ficar te olhando por horas que não me cansaria jamais.
Vou colocar minha mão na tua, e te puxar pra mim. Nossos corpos já estão unidos sobre a cama que ainda pouco estava ansiosa pela tua chegada. Teu abraço me conforta, e eu não penso mais na música que está tocando, penso somente na tua respiração soprando forte no meu pescoço, ou a minha no seu, eu já não sei mais. E aquele jeito que tu colocas o rosto em frente ao meu, me faz fechar os olhos e esperar por um beijo teu.
Enquanto o segundo se faz horas, os dias custam semanas a passar. E estou aqui sentada sobre as minhas pernas, caindo de cabeça num sonho nosso.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Depois que o laço de fita vermelho foi cortado, o silêncio era o que havia de melhor dentro daquela caixa. Havia duas opções de escolha: O vazio e o silêncio. Ela optou por preencher o vazio com o silêncio. Porque o silencio machuca, mas o vazio destrói. E se o vazio foge, o silencio fica, mas se o contrário se sucede, não restaria mais nada.
Pisar em folhas secas naquela tarde de outono nunca foi tão tedioso.
O sol iluminava a praça desprovida de presença humana, exceto a dela.
O barulho que as folhas emitiam enquanto ela as esmagava com as solas dos seus sapatos, lembrava os ruídos provocados pela mastigação de batatas fritas.
As batatas já não tinham mais o gosto da infância, e as folhas o barulho quebradiço. Tudo o que ela se permitia ouvir naquela tarde era o som do silencio ecoando em sua mente.
-Som do silêncio?
-Sim, aquele que só ela escuta, por ser tão familiar. E pelo fato do silencio quase nunca deixar de gritar dentro dela.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Por mais diferentes que os caminhos sejam, todos tem saída para um mesmo abrigo – se é que posso chamar assim.
Meu destino é igual ao dela, que é igual ao dele, que é igual ao de todos os outros. O que diferencia a caminhada até esse tal abrigo, são os passos dados – espero que os meus sejam firmes.
Hoje os passos dele são largos, enquanto os meus são curtos e calculistas, preferindo levar mais tempo a alcançar a linha de chegada, ao invés de colocar no chão um passo maior do que as minhas próprias pernas curtas, tropeçando em algum buraco e acabar única ao chão com a boca cheia de formigas.

domingo, 2 de agosto de 2009

Concreto

- Se eu decidir que quero ficar pra sempre, tu deixa?
- Eu deixo e ainda te dou um abraço bem forte, mesmo sabendo que tu não gostas.
- Então, por que vais dar?
- Porque eu quero.
- Eu quero também.
- Eu sei...

sábado, 1 de agosto de 2009

Ela ta sentada no chão, escorada no macro da porta de madeira cor de verniz. Dalí ela vê seus pés descalços, brancos e gélidos. É inverno ainda, mas o corpo já nem sente mais. Não sente mais, porque o mesmo sentimento caloroso que à aqueceu há meses atrás quando chegou, ainda permanece naquele peito que lateja. Dentro daquele peito que lateja, consta um coração barulhento. Os ruídos são todos seus...
O pijama branco da a sensação de que a paz ainda permanece, e ela de fato permanece. Aquela paz de espírito perturbado, mas a mesma paz de antes. O seu amor lhe explicou de onde vem a paz, e hoje ela sabe que a paz vem do sentimento.
É tudo sentimento, afinal são apenas mais algumas horas pra estender um abraço apertado ao corpo amado.